
Familiares da vítima relataram que os suspeitos teriam abandonado a vítima em estado grave no Pronto Socorro do Guamá, no dia 18 de junho deste ano, onde ela faleceu
Marcelle Débora Ferreira Araújo, de 51 anos, e o companheiro dela, Ronnyson dos Santos Alcântara, 50, foram presos pela Polícia Civil nesta sexta-feira (4/7), em Belém, pela suposta prática de violência psicológica e maus-tratos que terminaram com a morte de Flávia Cunha Costa, de 43 anos. Familiares da vítima relataram que os suspeitos teriam abandonado Flávia em estado grave no Pronto Socorro do Guamá, no dia 18 de junho deste ano, onde ela faleceu.
Os parentes não teriam sido avisados sobre a morte da mulher e somente descobriram o caso 12 dias depois, quando procuraram a Polícia Civil para denunciar a suposta ‘seita’ por abandono, maus-tratos e exploração financeira. Segundo a madrinha da vítima, Maria Iolanda Sacramento, Flávia entrou para o grupo religioso em 2014 e rompeu contato com parentes e amigos. A partir desse período, passou a ser controlada por uma mulher que se apresentava como pastora, mas que não possui formação teológica reconhecida. De acordo com a madrinha da vítima, Flávia passou a apresentar mudanças comportamentais significativas após iniciar a convivência com o grupo religioso.
“Ela era uma pessoa alegre, educada, generosa, tinha autoestima elevada. Depois que entrou na seita, virou outra pessoa. A Flávia conheceu essa mulher em um salão de beleza e passou a ir nas reuniões que eles faziam. Depois começou a fazer jejuns prolongados, falava sozinha durante a noite e desenvolveu sinais de sofrimento psíquico. A mãe dela foi orientada a internar Flávia em uma clínica psiquiátrica. Lá, ela recebeu diagnóstico de bipolaridade e a recomendação de seguir tratamento com medicamentos e acompanhamento psicológico. Mesmo assim, essa tal pastora orientou a Flávia a interromper os cuidados médicos para iniciar um ‘tratamento espiritual’”, relatou Iolanda.
A família também relata que Flávia foi financeiramente explorada ao longo dos anos. A jovem teria se mudado para o imóvel onde o grupo religioso se reunia e teria entregado suas economias à líder religiosa, incluindo valores em dólar e R$ 14 mil guardados com uma tia. “Ela sustentava a casa inteira. Ninguém ali trabalhava. Essa pastora, o marido dela e a filha passaram a ser sustentados pela Flávia”, disse. Segundo Maria Iolanda, Flávia encerrou atividades profissionais, deixou de prestar serviços à própria empresa de comunicação e passou a dedicar sua renda exclusivamente ao grupo.
Alertas
A familiar relata que vizinhos chegaram a alertar familiares sobre as condições precárias em que Flávia vivia. “Disseram que ela só podia pegar água à noite, que subia as escadas cambaleando, magra, com aparência de zumbi. A mãe da Flávia, preocupada com o que falaram, tentou registrar denúncia na delegacia, mas foi orientada a conversar com a filha. Em desespero, ela invadiu a residência onde Flávia morava e viu a filha de longe, fraca e com a pele esverdeada. Foi um choque para todos nós. Minha prima saiu de lá chorando, dizendo que a filha não ia resistir se continuasse naquele lugar”, afirmou Maria Iolanda.
Morte
Flávia foi levada ao hospital no dia 18 de junho, sem documentos, em estado de desnutrição e com pressão arterial muito baixa, segundo afirma a família. “A suposta pastora e o marido deixaram ela lá e falaram pros médicos que a Flávia era apenas uma vizinha. No dia seguinte, ela morreu. O corpo foi encaminhado ao IML como indigente”, detalhou a madrinha de Flávia.
A família soube da morte de Flávia somente dias depois, quando foram à Delegacia da Mulher tentar fazer novas denúncias sobre a exploração que Flávia sofria do grupo religioso. “A delegada pediu que a equipe fizesse uma última busca no sistema, para ver se tinham mais denúncias sobre essa seita ou essa tal pastora. Quando puxaram, apareceu um registro recente do dia 19 de junho. Foi assim que a gente descobriu que a Flávia já estava morta”, contou Maria Iolanda. Segundo ela, a delegada informou que o corpo havia dado entrada no IML como indigente e que, sem essa verificação, a vítima poderia ter sido sepultada sem identificação.
